A crise de representação dos partidos políticos no Brasil e no mundo foi o objeto de debate promovido, nesta quinta-feira (21), pela Assembleia Legislativa, UFRGS e Fundação Konrad Adenauer (KAS). Ancorada na obra Partidos Políticos: um enfoque transdisciplinar, lançada em 2015, na Alemanha, a reflexão reuniu especialistas da academia e do meio político que se debruçaram sobre temas como fragmentação da política, populismo, centralização partidária e governabilidade.
Um dos organizadores do livro, o professor e pesquisador Thomas Poguntke fez uma participação especial no seminário, direto da Alemanha. Ele abordou a questão do populismo como um fenômeno global, com a ascensão de governos populistas em diversos países, e o papel cada vez mais central da figura do líder na condução das democracias. Por outro lado, apontou para a premência de os partidos, que carecem de quadros, adotarem processos eficientes de seleção de suas lideranças.
Poguntke alertou ainda para o risco de desintegração e pulverização de partidos políticos em ambientes que fortalecem métodos plebiscitários em detrimento de outros mecanismos deliberativos. Para ele, a era das mídias sociais apresenta aos partidos políticos o desafio de criar novos instrumentos capazes de envolver a sociedade para fortalecer os processos democráticos.
O especialista analisou também os fatores que promovem o enfraquecimento das democracias, como as campanhas eleitorais excessivamente negativas, que minam a confiança do eleitorado, e a crescente centralização partidária em seus dirigentes.
Rejeição às siglas
A professora de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS e Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA/UFRGS-PUCRS) Silvana Krause chamou a atenção para o fato de que a rejeição às siglas partidárias no Brasil não é um fenômeno novo, mas que tem se acirrado no último período. Segundo ela, o caso brasileiro é o “mais peculiar” no quesito falta de confiança nos partidos. “Observamos em alguns casos uma completa negação das legendas, o antipartidarismo ou o ódio a uma sigla específica não só no Brasil, mas de forma muito forte aqui”, apontou.
Silvana salientou que o Brasil é considerado, pela Ciência Política, palco de um dos sistemas políticos mais fragmentados do mundo e que o número de legendas existentes não significa que existam diferenças significativas entre elas. Ressaltou, no entanto, que novos partidos, aqui e no mundo, têm incorporado agendas sensíveis à sociedade, como os temas comportamentais e as questões de sustentabilidade. Sobre as dificuldades relacionadas à governabilidade, Silvana afirmou que elas são comuns a países com sistemas eleitorais e de governos diferentes entre si.
Sistema fragmentado
O presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza (MDB), foi um dos debatedores. Ele afirmou que o Brasil “parece querer” um sistema político fragmentado. Ilustrou sua tese lembrando que o país adota uma “lista fulanizada” na eleição proporcional, muitas vezes, turbinada pela presença de pessoas famosas para garantir votações expressivas e fortalecer a sigla. E que esse sistema é retroalimentado por um fundo partidário com recursos públicos distribuídos com base na representação parlamentar. Destacou também que a quase aprovação do distritão seria um desastre, que tornaria “cada um o seu próprio partido”.
A coordenadora de projetos da KAS Brasil, Ariane Costa, fez a abertura institucional do evento.