Um estudo publicado no site da Fundação de Economia e Estatística (FEE), que analisa a renda do trabalhador gaúcho, chocou os setores mais progressistas e arejados da sociedade gaúcha, bem como os próprios pesquisadores da temática gênero e mercado de trabalho.
O texto não considera, no conjunto de variáveis explicativas da diferença de renda, três causas principais - perfil do emprego, estrutura familiar, perfil profissional - apontados nos estudos de gênero para a desigualdade salarial entre homens e mulheres. Manobra gravíssima, porque ultrapassa o debate político, atinge uma instituição respeitada e tenta fazer um uso absolutamente distorcido da ciência. Infelizmente, compõe o quadro das evidentes consequências da orientação do atual governo gaúcho – a extinção de uma Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), com o fim de um conjunto de programas e ações institucionais, que resultou na falta de interlocução sobre as questões de gênero. O episódio da FEE, na mesma linha da infeliz resposta do secretário de Segurança Pública, Wantuir Jacini, responsabilizando as mulheres pela violência e a insegurança da população, comprovam o quanto de retrocesso vivemos nesta temática.
O comportamento público do atual presidente da FEE – nas redes sociais - denota um inequívoco uso ideológico da Fundação para justificar uma visão pessoal atrasada, machista e preconceituosa. Além das mulheres, atinge a imagem de uma instituição que já foi presidida por intelectuais da envergadura de um Enéas de Souza, de uma Wrana Panizi ou de um Carlos Fraquele, entre tantos outros pesquisadores sérios, com diferentes visões de mundo, mas acima de tudo, comprometidos com a construção do conhecimento. Sabemos que felizmente, não representa o conjunto dos servidores do Fundação, mas não vamos tolerar nem o preconceito de gênero, tampouco o mau uso da ciência para justificar ideologias anacrônicas.
*Deputada estadual, vice-líder da Bancada do PT