Há cerca de um ano escrevi um texto intitulado “Sem mudar a estratégia entreguista”, que nem é preciso ajustar muito para deixar completamente atualizado à luz da triste inércia do Executivo rio-grandense. Em agosto de 2015, destaquei que “depois de 11 dias de atraso nos salários dos servidores, com a encenação midiática costumeira, o governador convocou entrevista coletiva – sem permitir a formulação de perguntas endereçadas a ele – para anunciar candidamente o complemento da folha de pessoal”.
Lembram do espetáculo circense montado no Piratini?
Registrei, então, que ele “nada mais fez do que cumprir, ainda que tardiamente, o disposto no artigo 35 da Constituição estadual da qual o próprio foi signatário, de que o governo tem obrigação de pagar, mensalmente, a remuneração dos funcionários públicos correspondente ao trabalho realizado”.
Observei naquele escrito, que, evitando, de certo modo, o agravamento incontornável do caos crescente no RS, Sartori “não alterou um milímetro sua estratégia política de desconstruir as funções públicas de Estado, cujas metas são bem conhecidas: o arrocho, as privatizações e o aumento de impostos”.
Ainda assinalei no artigo: “Por isto, assim, segue repetindo o mesmo discurso de que possui ‘um conjunto de ações estruturais’, embora siga praticando apenas medidas paliativas, empurrando com a barriga seguindo uma orientação que, além de tudo, já mostrou que não deu certo em lugar algum do mundo. E muito menos aqui, com Antonio Britto, Germano Rigotto, Yeda Crusius e agora o próprio José Ivo.
Neste tempo que passou, desde o alerta de agosto passado, o governo engordou a receita com a venda da folha de pagamento para o Banrisul e também conseguiu fôlego financeiro até o final do ano, sem precisar honrar a dívida com a união que o próprio Sartori ajudou a engendrar com Britto.
Ainda conseguiu aumentar impostos sensibilizando sua base parlamentar com a desculpa de que, sem a elevação linear de tributos, não teria como arcar com suas funções básicas de Estado.
Era lorota, como se viu.
Sartori seguiu com a naturalização das pedaladas dos parcelamentos e do atraso no pagamento salarial, culpando, portanto, o servidor público pela sua inoperância. Continuou sem investir em saúde, em educação e na segurança pública que, cada vez mais, preocupa todos os gaúchos pela sensação de medo e desamparo generalizado entre a população.
O pior é que não existem projetos de desenvolvimento para o Rio Grande e nem há expectativas de saídas a curto ou médio prazo. É como se o governo estivesse envolvido por uma armação de fios, como uma grande teia imaginária de derrotismo, que a tradição gaúcha nunca imaginou pudesse imobilizar o Rio Grande.
* Adão Villaverde é engenheiro, professor e deputado estadual