Estreante no Parlamento gaúcho, Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), repete na eleição para deputada estadual o desempenho vitorioso de pleitos anteriores. Com 222.436 votos, obtidos em 495 municípios, foi a mais votada entre os 55 eleitos para a Assembleia Legislativa. Em 2006, já havia sido a mais votada do Rio Grande do Sul para a Câmara Federal e, em 2010, com quase 500 mil votos, a campeã de votos em todo o país.
Sobre o sucesso nas urnas, Manuela diz que não há uma receita pronta. “As pessoas buscam respostas nas coisas erradas”, afirma. “O que explica a política é a política, não vamos encontrar respostas fora dela”. Manuela também foi a mais jovem vereadora eleita em Porto Alegre, em 2004. Candidatou-se à prefeitura da Capital em 2008 e 2012, mas não se elegeu.
Segundo ela, quando foi eleita pela primeira vez, dizia-se que era porque era jovem e simpática. “Mas quantos simpáticos não são reeleitos?”, pergunta. Ela atribui os bons resultados a uma política simples, explicada e com posição. “Porque ficar em cima do muro está na moda, mas eu sempre tive posição”, afirma. “As pessoas podem gostar ou não; e busquei contrapontos com o outro lado”.
Orgulho da trajetória construída
Após uma década de atividade parlamentar (dois anos como vereadora de Porto Alegre e oito anos como deputada federal), diz que não é mais uma novidade e que a votação expressiva lhe dá ainda mais responsabilidade. “Tenho muito orgulho de, aos 33 anos, ter essa trajetória política e chegar à Assembleia Legislativa do Estado”, diz.
Quando lhe perguntam sobre o porquê de retornar ao Rio Grande do Sul, quando o natural, segundo muitos, seria seguir em sua trajetória bem sucedida em nível nacional, a parlamentar diz ter muitas respostas, mas que a melhor delas é que “quando a gente sai daqui (do Palácio Farroupilha, sede do Parlamento gaúcho), já está na Praça da Matriz. Tem lugar mais bonito?”, pergunta. “Senti muita falta de viver em Porto Alegre, e a praça é um símbolo”, explica. Ela acrescenta que a mudança também é reflexo do seu temperamento. “Tem jornalistas, por exemplo, que conseguem escrever a mesma coluna 20 anos com qualidade, eu não conseguiria”, diz. “Precisei dar movimento à minha vida, e ser deputada estadual era algo que eu nunca tinha sido, então combinei muitas coisas: a renovação na política e meu próprio desejo de renovar”.
Manuela garante sair satisfeita da Capital Federal e diz que não houve desilusão. “Só se desilude quem se ilude, e eu não fui iludida para Brasília. Sabia que seria difícil, e foi difícil”, afirma. Porém, encerra um período de oito anos na Câmara dos Deputados – dos 25 aos 33 anos de idade – orgulhosa de suas realizações. “Aprovamos a Lei dos Estágios, o Estatuto da Juventude, o Vale-Cultura”, enumera. “Avançamos no respeito à juventude enquanto sujeito social da política do nosso país. Fui líder do partido, presidi a Comissão de Direitos Humanos, coordenei a bancada gaúcha duas vezes”, continua. “Fiz um pouco de tudo, e acho que fiz bem feito, mas preciso de mudança na minha rotina”.
Na Assembleia Legislativa, quer trabalhar especialmente com o tema da violência social. “Presidi a Comissão de Direitos Humanos na Câmara e creio que ainda não conseguimos compreender o que significa a luta pelos direitos humanos e individuais, e isso inclui a segurança”, diz. “Segurança para todos: para a mulher, que é vítima de violência, para o jovem, que é constrangido por fazer parte de um estereótipo vinculado à violência social", reflete. "A Assembleia gaúcha tem tradição na questão dos direitos humanos”, acrescenta.
Manuela terá na Assembleia um colega de bancada, Juliano Roso. Graças ao sistema proporcional das eleições, a votação expressiva obtida por ela garantiu à sua coligação ("Avançar nas Mudanças") três cadeiras na Assembleia, além da sua, que serão ocupadas por Miguel Bianchini (PPL), Missionário Volnei (PR) e Roso.
Formação e reconhecimento
Manuela é jornalista formada pela PUC-RS e iniciou sua trajetória no movimento estudantil em 1999. Filiou-se ao PCdoB dois anos depois, em 2001. Recebeu diversos prêmios e distinções, como o "Congresso em Foco" e o reconhecimento dos internautas como a deputada que mais bem representou a população na Câmara. Em 2011, foi apontada pela revista Época como uma das 40 personalidades com menos de 40 anos mais influentes do Brasil e uma das 100 personalidades mais influentes do país.