Dos 13.515 votos que deram ao vereador e ex-bombeiro Miguel Bianchini uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 10.983 vieram da sua cidade natal, Santiago. Representando um partido pequeno, o Partido Pátria Livre (PPL), Bianchini orgulha-se de ter feito uma campanha modesta, com recursos próprios. Credita a vitória nas urnas à sua trajetória pessoal e profissional e ao desejo dos conterrâneos de contar com um representante no Parlamento, bem como à decisão do partido em aliar-se à coligação Avançar nas Mudanças. Foi eleito com uma diferença de apenas três votos para o primeiro suplente, Junior Piaia, do PCdoB.
Em seu terceiro mandato como vereador, os dois primeiros pelo Partido Progressista e o atual pelo PPL, Bianchini diz que a votação foi uma surpresa em uma cidade, segundo ele, conservadora e habituada a votar em partidos tradicionais. O apoio veio especialmente dos colegas do Corpo de Bombeiros, onde atuou por 25 anos, tendo ingressado como soldado e alcançado o posto de 1º tenente. Em 2003 e 2004, foi comandante da corporação na cidade. “Isso me tornou conhecido na região e ajudou nas eleições para vereador e deputado”, explica.
A desproporção em termos de poder econômico entre os candidatos era muito grande, segundo o parlamentar. “Sozinho, caminhando no calçadão de Santiago, nas ruas, sem ninguém para me ajudar, levando meus santinhos de mão em mão: esta foi a minha campanha”, diz. “Mas, por trás, para minha surpresa, havia muita gente que ajudou, independentemente de partido”, complementa. “A maior fatia do PP votou em mim, mesmo eu sendo dissidente do partido”.
O custo da campanha, conforme relata, foi de R$ 16,7 mil, em recursos próprios, além de uma doação de R$ 1.570. “Declarei até o tíquete de estacionamento rotativo quando eu estacionava o Fuca no centro da cidade com uma placa em cima”, conta. “Me ofereciam dinheiro, gasolina, mas eu não aceitava, porque não queria fazer campanha daquela forma. Meu desafio era chegar na segunda-feira após a eleição, tirar um extrato bancário e a minha conta estar positiva, sem dever um centavo a ninguém”.
Conforme Bianchini, o PPL é um partido nacionalista, desenvolvimentista, que defende o fortalecimento da indústria e as riquezas nacionais. Ele explica que é um partido de esquerda, com origem no MR-8, mas afirma não ter ideologia. “Minha ideologia é o bem comum”, declara. Um dos motivos que o fizeram mudar de legenda, conforme relata, foi a discordância a respeito de a quem pertencia o mandato. Na sua opinião, não pertence nem ao partido, nem ao detentor do cargo, mas às pessoas. “Vivemos em uma democracia representativa onde o povo governa pelos seus eleitos, então tenho que representar os seus anseios”, diz.
Bombeiro de Ferro
Conhecido na sua região como o “Bombeiro de Ferro”, Bianchini explica que o apelido surgiu de uma competição técnica e de resistência promovida pelo comando regional de Santa Maria, vencida por ele. “Houve repercussão na imprensa e passei a ser chamado assim”.
Sempre atuante e envolvido nos pleitos da região, o deputado eleito é vice-presidente da Associação das Câmaras Municipais do Vale do Jaguari, tendo sido já presidente, tesoureiro e secretário da entidade.
Propostas
Na Assembleia Legislativa, ele pretende ser a voz da sua região e realizar um trabalho técnico. “Não quero um assessor aqui na Assembleia trabalhando a minha imagem para uma futura eleição, por exemplo”. Entre os temas que acompanhou estão a lei de prevenção contra incêndios, aprovada na atual Legislatura, após o incêndio na boate Kiss, e a separação do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar. Sobre o primeiro, descreve as dificuldades para a realização de vistorias e adequação dos pequenos clubes à legislação; quanto ao segundo, diz se tratar de uma luta antiga, que sempre apoiou.
Bianchini tem 53 anos, é casado há 27, pai de duas filhas, de 26 e 24 anos, e atua há nove anos como vereador na Câmara Municipal de Santiago. Além dos quase 11 mil votos na sua cidade, recebeu votos em outros 111 municípios, como Jaguari (410), São Francisco de Assis (363) e Capão do Cipó (250).